Uso da chupeta: Sim ou Não?

14-11-2019

Frequentemente os pais optam por dar a chupeta ao seu recém nascido, uma vez que a sucção (seja nutritiva através da amamentação, ou não nutritiva através da chupeta) origina no bebé a sensação de conforto e segurança, deixando-o mais tranquilo. A sua não utilização pode fazer com que a criança procure alternativas que provoquem uma sensação semelhante, como chuchar no dedo, na língua ou em outros objetos. Mas será que a chupeta, muitas vezes vista como um objeto "milagroso", apresenta exclusivamente aspetos positivos?

Que não haja dúvidas: a chupeta acalma o bebé! Por isso, até aos doze meses, não há problema em dar a chupeta quando o bebé está a chorar ou impaciente, mas não se deve fazer disso uma regra. Usar a chupeta frequentemente durante o dia está fora de questão!


Verdades e Mitos sobre a utilização da chupeta

"O uso da chupeta não tem qualquer relação com o sucesso do aleitamento materno."

MITO! A introdução da chupeta só deverá ser feita quando a amamentação estiver bem estabelecida. Geralmente cerca de 3 a 4 semanas após o nascimento. Até então, os bebés ainda estão a amadurecer o padrão de sucção para a amamentação e a introdução de um novo estímulo poderá inibir, ou comprometer, o sucesso do aleitamento materno.


"O uso da chupeta apresenta benefícios na redução da Síndrome de Morte Súbita do Lactante."

VERDADE! A utilização da chupeta durante o sono e até aos 12 meses de idade, reduz o risco da Síndrome de Morte Súbita do Lactante. Neste período, a chupeta apresenta não só um efeito protetor na respiração durante o sono, como também evita que o bebé durma em decúbito ventral, considerada uma posição de risco.


"Se a chupeta for ortodôntica a criança pode usar sem qualquer problema!"

MITO! Embora não seja consensual, a chupeta de bico ortodôntico é a mais recomendada por permitir um melhor posicionamento da língua e vedamento labial. No entanto, a utilização prolongada, tanto deste tipo de chupeta como da convencional, origina alterações ao nível das estruturas e funções orofaciais.


"A chupeta deve ser retirada antes dos 3 anos de idade."

VERDADE! A eliminação deste hábito deve iniciar-se, gradualmente, a partir dos 2 anos. A partir dos 3 anos o seu uso regular e prolongado é apontado como o período em que começa a ter efeitos negativos. A sucção na chupeta é um dos hábitos orais mais nocivos e comuns na infância, constituindo um sério fator de risco para alterações estruturais e funcionais ao nível orofacial (mandíbula, dentes, palato/céu da boca, língua, ...).


"A utilização da chupeta potencia a ocorrência de Otite Média Aguda."

VERDADE! A sucção na chupeta altera a pressão de ar no ouvido, impedindo, assim, uma drenagem adequada. Este facto potencia a ocorrência de otites.


"A utilização da chupeta pode comprometer a fala da criança."

VERDADE! O uso prolongado da chupeta está relacionado com alterações no desenvolvimento da face e da boca, bem como das funções que lhes estão subjacentes, nomeadamente a fala. Mas também a mastigação, a deglutição e a respiração podem ser afetadas pelo uso prolongado da chupeta. Estas alterações irão depender da duração, frequência e intensidade deste hábito oral.


Dicas para ajudar a eliminar este hábito

  • Eliminar o hábito de usar chupeta demora tempo e é necessário um grande investimento e persistência por parte dos pais. Por isso, é importante escolher um período tranquilo, tanto para a criança como para si.
  • De acordo com o nível de compreensão e idade da criança, consciencialize-a acerca dos efeitos negativos do uso da chupeta ("A chucha pode deixar os nossos dentes muito tortos!").
  • Diminua o seu tempo de utilização de forma gradual, contribuindo para que a criança se habitue à ideia de que se deverá separar da chupeta.
  • Conforme a época em que inicie este processo, experimente motivar a criança nesse sentido ("Já estás tão crescido(a) que este ano podíamos oferecer a chupeta ao Pai Natal!").
  • Crie, juntamente com a criança, um calendário em que a mesma deverá colocar um autocolante sempre que conseguir estar um dia sem recorrer à chupeta. Mostre-lhe como fica orgulhosa(o). Isso irá motivá-la!


Para finalizar...

  • Importa realçar que a decisão da introdução da chupeta é dos pais, devendo estes estar alertas para os seus benefícios e malefícios.
  • Sendo a chupeta um elemento de autoconforto é preciso ter em atenção os motivos que levam a criança a procurá-la. Assim, poderá recorrer a um Psicólogo para o auxiliar se suspeitar que a dificuldade da separação da chupeta apresenta uma origem emocional mais complexa.
  • Se verificar que a criança apresenta alterações ao nível da fala, alimentação e/ou respiração consulte um Terapeuta da Fala.


Dra Raquel Tavares [Terapeuta da Fala » Centro de Desenvolvimento Acentuar]

Fontes: Araújo, D. (2014). O efeito da utilização da chupeta na Síndrome de Morte Súbita: Uma revisão sistemática da literatura com meta-análise. | Barreto, B. W. (2018). Hábitos deletérios não nutritivos: Uso prolongado de mamadeira, chupeta e sucção digital. | Estalagem, A. R. (2016). Relação entre o uso de chupeta e a condição muscular orofacial. | Granja, L. F. (2011). Desenvolvimento do sistema estomatognático na infância. In: H. J. Silva, & D. A. Cunha, O Sistema Estomatognático: Anatomofisiologia e Desenvolvimento (pp. 91-100). São Paulo: Pulso Editorial. | Muzulan, C. F., & Gonçalves, M. I. (2011). O lúdico na remoção de hábitos de sucção de dedo e chupeta. |Nobre, B. R. (2019). Influência dos hábitos de sucção nutritiva e não nutritiva no desenvolvimento da arcada dentária. | Silva, F. R. (2016). Relação do aleitamento e hábitos deletérios no desenvolvimento estomatognático. Porto. | Sociedade Brasileira de Pediatria (2017). Uso de chupetas em crianças amamentadas: prós e contras.

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